Woody Allen é um daqueles diretores que semprem me levam ao cinema ou, pelo menos, volta comigo da locadora. Independente do que diz a crítica. Está naquela categoria de coisas em que a opinião alheia pouco importa, tenho que ver com meus próprios olhos.
Vicky Cristina Barcelona vi no DVD. Mesmo que não fosse filme dele, iria assistir. Se não é difícil ignorar Scarlett Johansson e Penélope Cruz sozinhas, quiça juntas. São coisa linda de se ver, adornam qualquer película. Além de boas atrizes, é claro. E ainda tem Javier Bardem, engrossando o elenco com seu perfil de toureiro.
A capa fala de “comédia deliciosa” e de “Allen em grande forma”. Achei legal, apenas legal. Os atores são ótimos, Woody é porreta e é refrescante ver uma cidade européia como pano de fundo. Barcelona esteve perfeita no seu papel. Mas a história fica aquém do resto. Falta pegada. E chamar o filme de comédia, só se for no senso eudito da palavra, pois trata-se de uma trama de sobre relacionamentos falidos e insatisfações amorosas de todos tipos. Não tem nada de cômico. Se alguém gargalhar do seu lado no cinema, pode olhar feio.
O que Woody queria era fazer um filme na Espanha. Deve ter passado umas férias lá e decidiu - “vou rodar um filme aqui!”.
- Na Espanha, Woody?
- Isso. Em Barcelona!
- E qual será a história, Woody?
- Pouco importa.
Sendo na Espanha, chamou Javier Bardem. Bardem está para o país como Ricado Darin para a Argentina, ou como Depardieu foi um dia para a França. A segunda escolha óbvia é Penélope, a fêmea ibérica. E Scarlett, musa do momento. Pronto. Ficou tudo muito bonito, os atores deram conta do recado – Penélope levou até um Oscar pela esfuziante personagem maníaco-depressiva. Mas se você perguntar a qualquer transeunte sobre o filme, ele vai responder: “É aquele em que a Penélope Cruz e a Scarlett Johansson se beijam na boca?”
A verdade, senhores, é essa. O ponto alto do filme são as duas. Como disse meu Woody imaginário, pouco importa a história. No final das contas – para não dizer no frigir dos ovos – o filme não passa de um desejo sexual do diretor. Woody está longe de ser santo. Um sujeito que casa com a própria enteada é um sátiro, registrado em cartório e com firma reconhecida.
Mas é também um diretor reputadíssimo. Enquanto o sujeito comum dá vazão às suas fantasias com as profissionais do ramo, Woody chama Scarlett e Penélope; enquanto os mortais registram suas sacanagens no vídeo do celular para mostrar aos colegas da firma, Woody grava em 16mm e tem estréia mundial simultânea.