sábado, 23 de maio de 2009

Buona gente


A prisão do mafioso Leonardo Badalamenti em São Paulo é digna de nota. Primeiro por ter ressucitado a figura de Tommaso Buscetta, sócio da famiglia em algumas empreitadas do passado. Tommaso (ou Don Masino), nos seus dias de Brasil, deixou muito repórter e âncora de telejornal constrangido com a pronúncia de seu sobrenome cabeludo – perdoem o trocadilho.

Segundo por mostrar que ainda existem malfeitores com classe. Num país acostumado com traficantes que incendeiam ônibus, deputados que constróem castelos com o erário público, polícia que mata reféns e ladrões que enchem de bala transeuntes desavisados, é refrescante conhecer um bandido como Badalamenti. Enquanto os malfeitores domésticos gostam de esfregar sua bandidagem nas nossas caras, certos da impunidade, o italiano se esforça para manter uma fachada digna. Mora há dez anos no mesmo lugar, cultivando hábitos simples. Beija criancinhas, ajuda idosos a atravessar a rua, joga xadrez com o vizinho e, nos momentos de introspecção, fuma um singelo cigarrinho de palha na varanda de casa. Ninguém na vizinhança consegue acreditar que ele seria capaz de se envolver com o crime, mesmo sendo filho de um mafioso siciliano de primeira grandeza.

Enquanto isso Badalamenti – que, afinal, precisa tirar o sustento de algum lugar - organizou um esquema internacional para a captação de crédito em entidades como Lehman Brothers, Shangai Bank e HSBC e para a venda de títulos falsos da dívida da Venezuela.

Convenhamos: até na escolha das vítimas o sujeito é cativante.

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